segunda-feira, 22 de novembro de 2010

As Aventuras do Capitão X


O som que parecia de um trovão acordou o Capitão X. Ainda muito sonolento, observou os leds e mostradores eletrônicos do painel da nave. Não sabia exatamente como tinha vindo parar ali, comandando aquele pequeno submarino. Olhou os mostradores de pressão, os ponteiros de velocidade, aceleração e estabilidade. Tudo estava checado e parecia correto.

Atordoado, e curioso encontrou algumas cápsulas e às vasculhou para ver se descobria algo para entender o contexto. Nada demais, apenas um punhado de proteínas concentradas que provavelmente faziam parte de um estoque planejado. Nem pensou em provar das proteínas, naquele momento sentia-se empanzinado. O sono era forte, queria um café, um fumegante cafezinho que fosse! Não, nada quente, o ideal mesmo seria uma coca-cola gelada, afinal de contas, pelo menos, um arroto seria muito bem vindo naquela hora. Ficou na vontade.

Olhou pelo estetoscópio o entorno. Não conseguiu ao menos decifrar em que oceano poderia estar. Havia só escuridão e a água parecia tão grossa quanto um viscoso mingau de clara de ovos. Chegou a ficar preocupado quanto ao progresso da nave naquele profundo e misterioso universo.

O led do radio transmissor chamou a atenção com uma piscadela. Rodou o botão de volume e percebeu pequenos ruídos. Seria apenas estática? Girou ainda mais o sensível seletor no sentido anti-horário e ajustou o equalizador de ruídos. Deu para perceber que eram vozes. No entanto o Capitão não entendia nada do que diziam, parecia uma espécie de língua diferente e complexa. Tentou em vão trocar informações.

Olhando pela pequena janela superior do submarino notou uma espécie de luz. Seria outra nave vindo de encontro? No mesmo instante tentou estabelecer contato piscando suas lanternas e de forma boba agitou os braços como se fosse possível que alguém pudesse vê-lo.

Alguns dias passaram e o capitão X, já começava a decifrar alguns códigos do rádio transmissor, ele já sabia quando as vozes alienígenas estavam exaltadas, afoitas ou soturnas.

Apesar do tédio e da ansiedade por todo aquele mistério, ele encontrava forças nas proteínas e principalmente no constante bater de tambores que cada vez mais eram perceptíveis. Pensava que em algum local não muito longe, ele encontraria essa outra nave ou quem sabe, emergiria para uma ilha onde alguma civilização mais atrasada e seus tambores pudessem dar explicações sobre toda a situação.

...

Entramos na pequena sala para a ultrassonografia, a médica, com voz gentil, fez as corriqueiras perguntas, e os tradicionais elogios. Olhei o gel sendo espalhado na barriga da minha mulher, lembrei que precisava comprar mousse de banana.

Na tela, aquela tradicional imagem parecida com um radar de um navio ou submarino. Estava tudo bem, graças a Deus. Sobre o sexo teríamos de esperar mais duas semanas. Fiquei prestando atenção no som, era como no fundo do mar. O nosso bebê, brincalhão, agitava os bracinhos. Ele nem sabe que existimos, pensei.

...

A luz reapareceu. As vozes eram exaltadas, os tambores acelerados, e o Capitão X, novamente de forma ridícula, mexia seus braços, como se alguém fosse notar. Ele não sabia de onde vinha e para onde ia, ele não sabia o que fazia ali, ele não sabia nem mesmo quem era ele e se realmente ele era “ele”. Ele só sabia que sua jornada precisava continuar.

Um comentário:

Anônimo disse...

Que lindo... Te "amamos"!!

Luciana