quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Nave G 1:3 - Um Conto de Ficção Científica


O projeto do experimento já estava adiantado, o cenário havia sido minuciosamente preparado e imaginando-se a coisa pronta percebia-se um trabalho valoroso. Sem duvida a obra prima estava praticamente definida pra ser finalmente executada. No entanto a idéia ainda carecia do tempero, do desafio, do imponderável, aqueles que ali seriam distribuídos, naquele fabuloso ambiente, seriam coadjuvantes dessa nova concepção. A idéia era desenvolver o Protagonista com um novo elemento. Um dos técnicos responsáveis pelo setor de desenvolvimentos emocionais já vinha há algum tempo trabalhando com algo nesse sentido e seu discurso era arriscar mais.

O Arquiteto chefe não estava bem seguro quanto a inserir esses riscos no projeto do Protagonista. Seu medo era que assim como o conceito das sementes, essa função pudesse passar um pouco dos limites.

Num debate na grande mesa de reuniões a polêmica foi muito discutida.

- Acho que criar essa brecha nesses primeiros protótipos pode até não fazer efeito em curto prazo. Porém temo pelo desenrolar mais a frente. Dizia, um dos projetistas mais conservadores. Ele continuou:

- Temos que respeitar nosso princípio básico de harmonia. Esse plus poderá desequilibrar todo o trabalho.

Luiz C.F, o técnico mais defensor da idéia em questão, respondeu:

- Ninguém aqui, quer esse projeto apenas como uma obra de arte que impressiona por sua perfeição. Não tenho dúvidas que sem esse “algo mais” a coisa vai se perder no tempo e na obsolescência.

- Senhores! Eu gostaria de mostrar esses fluxogramas que desenvolvi, com base em prospecções teóricas desse fragmento específico da experiência. Disse um jovem estendendo na mesa uma serie de anotações holográficas. Ele continuou:

- Vejam que a inserção de elementos “emo-racionais” poderá sim ocasionar uma veloz reação em cadeia, o que poderia causar erros ou ocasionar avanços. Nesses fluxogramas holográficos eu demonstro que o primeiro problema seria um natural questionamento sobre nossa ingerência, nossa importância ou até nossa existência.

- Bobagem! Isso seria facilmente resolvido com pequenas inserções no decorrer do tempo, conforme necessidade. Respondeu secamente Luiz C. F.

- Mas lembre-se engenheiro Luiz, que um de nossos propósitos nessa empreitada é dar apenas o start, sem muitas interferências no funcionamento restante. Falou o Arquiteto chefe, e continuou: De qualquer forma eu não vejo grandes obstáculos nesses tais questionamentos ou dúvidas.

- Mas Senhor, replicou o jovem, aqui nos fluxogramas também observo que essa diferenciação poderá prejudicar em muito o desenvolvimento das peças coadjuvantes sejam da mesma família ou não. A função “emo-racional” seria um desastre frente à absoluta harmonia pensada para todo o entorno do projeto. Mais adiante será praticamente certo o desenvolvimento de vícios e defeitos como: O corrompimento dos limites de respeito a tudo, a sobrepujança das vantagens sobre os coadjuvantes, o egocentrismo em todas as questões, as dissimulações para com suas próprias consciências, a arrogância dentre suas diferenciadas classes, a busca pelo fácil que dificultará o grupo, a voracidade pelo poder alimentada por uma obvia e mesquinha ganância, a competição sem escrúpulos por remédios inventados, a maldade planejada, a crueldade viciosa, os instrumentos de sofrimento, os artifícios de ataque, a estupidez da autodestruição e outras incoerências. A lista é longa. Do lado dos avanços tudo poderia ser resumido na capacidade de entender tudo e por conseqüência disso a possibilidade de uma pacifica coexistência. Mas advirto senhor: Acho pouco provável essa hipótese positiva.

O Arquiteto ficou então pensante.

Em seguida Luiz C.F pediu a palavra.

- Acho que essa é nossa chance de executarmos um trabalho verdadeiramente digno das nossas possibilidades. O elemento “Protagonista” será nosso maior feito, teremos um produto verdadeiramente rico. Esta nova função de forma alguma poderá trazer descontinuidades. Admira-me que alguns colegas discursem contra essa brilhante propriedade de ampliação vertiginosa de capacidades. Não acredito e acho que seria ilógico que estes produtos fossem se destruir tendo essa ferramenta tão valorosa. Na verdade soa-me como piada esses fluxogramas e suas conclusões pessimistas.

O Arquiteto continuou quieto.

Todos aqueles cientistas continuaram discutindo por algum tempo. Depois de argumentações de todos os lados, o chefe finalmente resolveu pelo uso da novidade no projeto dos Protagonistas. O Arquiteto resolveu assumir os riscos. Porém resolveu que nunca haveria ajustes. Apesar do alerta quanto às possibilidades de fracasso, ele resolveu dar crédito aqueles produtos. Pensava que se liberasse um fragmento de “alma” àqueles Protagonistas, teria uma gratidão eterna como garantia de que as coisas nunca desandariam. Sim, ele estava convencido que o projeto seria uma sucesso.

Depois de brindarem com um delicioso e fumegante fondue regado com geladíssima champagne, a cerimônia de lançamento do projeto foi finalmente iniciada com as palavras do Arquiteto chefe.

- Haja Luz!!!!

Um comentário:

Profª Rita disse...

Adoro esses finais surpreendentes. No início,viajei para o futuro, depois passei pela Bienal e, só no fim tive a resposta. E, só agora, saquei o Luiz CF. Hum. Please to meet you...